Será que ele é?

Será que ele é?


Acredito que todo pai vive com o fantasma do filho ser gay. O meu, no dia em que nasci, em meio à ditadura, gritou bêbado: “Prefiro ter um filho ‘viado’ do que militar!”. Talvez, por isso, achou que eu era gay quando fui dividir apartamento com um amigo e vim morar em São Paulo.

Quem já dividiu um apartamento com um homem sabe: todo mundo pensa que você e seu amigo são gays. Em Salvador, minha pobre mãe pediu para o zelador interfonar:

- Por favor, o senhor poderia chamar Matheus?
- Matheus? Aquele que mora com outro?
- É… Esse mesmo!

Coisa é fazer compras de supermercado juntos. Os dois andando pelos corredores, empurrando o carrinho e sendo observados pelas donas de casa com seus maridos. Viramos a atração do hortifruti enquanto escolhemos os legumes e as verduras.

Os técnicos da TV a cabo foram instalar o aparelho. Passado algum tempo, meu colega sai do quarto dele, não o meu, nem o nosso, o dele. Os técnicos entreolharam-se até que eu perguntei:

- Já instalou o Sexyhot? (canal de filme pornô, heterossexual)

E quando a sua vizinha é uma mulher que ficou pra titia, cuida da mãe e participa da quermesse da Igreja, pergunta:

- Vocês compraram o apartamento?

Homem é assim mesmo. Nunca saímos da puberdade. Quando masculinidade se mede pela quantidade de álcool que se bebe e de mulher que se pega. Precisamos nos autoafirmar o tempo inteiro. Principalmente quando questionam nossa sexualidade.

Também sou assim, mas não posso negar que tenho um lado feminino bem acentuado. Nunca fui muito bom de bebida, nem de pegar muita mulher. Choro em final de novela, sou romântico e fã da música “Super Homem – A Canção” de Gil. Mas não, meu pai. Eu não sou gay.


Por Matheus Tapioca em www.farinhademandioca.net

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